Ter a sensação de que os teus olhos brilhavam mais quando olhavas para mim. Alinhar na tua chantagem, se eu comer a sopa toda, fazes-me uma gemada com os ovos das tuas galinhas. Saber que fazias beringela frita, porque eu dizia que era gulosa daquilo. Olhar para ti e pensar que ninguém no mundo era mais bonito. Ouvir vezes sem conta a história de como não sabias fazer empadas e no dia em que te iam ensinar a fazê-las madrugaste para as tentares fazer sozinha e no resto da tua vida era a mestre. Até hoje, não como as de mais ninguém. Alternar entre a certeza de saber que eu era a tua neta preferida e a dúvida de pensar que se calhar parte do teu encanto era fazeres cada um de nós, os 9 netos, especiais e únicos, os melhores e os preferidos. Ter como um dos primeiros pensamentos " ainda bem que já não estás cá" quando um dos teus netos se matou e nos deixou à nora, pois sei que isso te mataria de desgosto. Maravilhar-me com a tua alegria e força, sabendo que lá dentro, algures, carregavas a dor de ter perdido dois filhos. Fazer-te festinhas na mão nos poucos instantes em que mostravas a tristeza e te fugia uma lágrima ou duas. Decidir que queria para mim um amor como o teu, quando via como o Avô te respondeu quando lhe disseste que ele tinha mesmo que tomar aquele medicamento, que lhe ia fazer bem... " O que me faz bem és tu..." Fazer de propósito uma birra para comer, mesmo tendo fome, só para me contares as histórias e as peripécias dos meus tios, teus filhos, achavas que eras tu a única com manhas, não? Saber que a minha divisão preferida numa casa é a cozinha por ser o sítio onde me sinto mais próxima de ti. Saber que eu era a resposta à pergunta " Quem é amiguinha da avó, quem é?"
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