Faz amanhã anos que recebi um dos telefonemas que mais me partiu o coração, me tirou o chão debaixo dos pés, me arrancou um pedacinho de alegria que penso que nunca mais vou conseguir renovar. A morte da minha Avó. A voz da minha mãe a querer arranjar forças para me dar a notícia. Eu a adivinhá-la, mesmo antes da minha mãe falar. No jornaleco cá da terra, há a costumeira página de necrologia onde, claro, colocámos o anúncio do falecimento da minha Avó. Um dos meus tios escreveu o pequeno texto que acompanhava a foto no jornal. Um dos meus maiores orgulhos é ler esse pequeno texto e rever-me a mim em cada linha. "... só era feliz no meio dos seus...", "... via Jesus por baixo da roupa de cada necessitado..." ( para mim, a melhor definição de um bom cristão ). Sou muito do que a minha Avó era, tenho muito do que ela tinha.
Por isso, quando hoje a minha mãe me telefonou e pediu que eu fosse amanhã ao cemitério colocar flores na campa dela, eu, como todos os anos, não achei que essa fosse a melhor forma de a recordar e homenagear. E desligo o telefone. Pouco tempo depois, entra-me no trabalho uma senhora amiga de uma querida cliente minha, que já está a viver no lar de idosos, porque a sua casa ardeu e não tem mais família. Long story short, fui fazer uma visita domiciliária ( não estão previstas no meu trabalho ) ao lar onde a senhora vive, ajudei-a no que ela precisava e fui à minha vidinha. Não contei à senhora porque é que lhe fiz isto, sair da minha rota para casa, andar quilómetros a pé para ajudar alguém. Fi-lo para honrar o que a minha Avó me deixou. Deixei flores em alguém que precisava de mim hoje.
Ajudar quem precisa de nós, quando precisa de nós. Flores tinha a minha Avó no quintal dela, plantadas por ela. Boas acções plantou-as no meu coração.
Ainda me fazes falta, Avó.
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