terça-feira, 15 de dezembro de 2015

O medo

Que bom que era o tempo em que tinha medo do escuro, do fogo de artifício ( na minha infância chamavam-se foguetes ) e de cães ( que hoje adoro ). Durante muito tempo tive medo de não encontrar ninguém com quem partilhar a minha vida e acabar sozinha. Tinha medo da solidão. E isso (entre outras coisas ) levou-me a entrar e permanecer em relações pouco saudáveis, que não me faziam feliz. Imagino que à outra parte também não. Resolvi esse medo com o meu grande amigo Tempo e com outros grandes, enormes amigos que se revelaram quando eu precisei, como eu precisei. Descobri que sozinha sou feliz e com a cabeça e o coração no lugar, não poderei sentir solidão na minha companhia. E depois de encontrar maneira de ser feliz sozinha, só aceitei mudar de estado civil por alguém que merece essa honra. Done. Depois, as mortes com que tive que lidar. O medo do telefone tocar e o mundo mudar num segundo. Em fase de resolução, luta diária. Para alguém que teima em encontrar sempre o lado bom de tudo, encontrar o mau do bom devia ser considerado tempo perdido. Não sei se é. O facto é que o bom de termos pessoas queridas na nossa vida é que, de um momento para o outro, elas podem desaparecer. Medo. Pânico. Terror. Já chega. Já perdi tanta coisa, tanta gente. Por resolver, está visto. Não sei fazer lutos. Depois essa modernice do relógio biológico. A ideia de vir a ser mãe. E pimbas, surge o medo que algo de mau aconteça a um filho meu. E a maldade que há no mundo em que ele iria nascer. E a optimista que há em mim, e que gosto de pensar que sou, relembra que há tanto, tanto, tanto de bom para viver ( e porque é que te mataste, Rodrigo? ).  E o medo de faltar ao meu filho. O medo de não o conseguir proteger. O medo de ele não ser feliz. Em fases mais complicadas da minha vida, berrei muitas vezes EU NÃO PEDI PARA NASCER!!!! Não pedi para nascer, a ideia não foi minha e agora tenho que fazer isto e aquilo e aquel'outro porque se lembraram que eu havia de nascer. E tu, filho? Vais querer nascer? Vais gostar disto? O medo que ele não goste. E depois encontra-se aquela pessoa que nos ama, da maneira que nós gostamos e queremos e precisamos ( e que acaba de meter a chave à porta ) e nós já aprendemos que primeiro somos nós e depois são os outros. Tal e qual a publicidade do leite matinal, se eu não gostar de mim, quem gostará?. Mas depois vem o desejo de passar a vida todinha com aquela pessoa. E se ela vai embora? E se deixa de gostar? E o medo de perder as rédeas da nossa própria felicidade, perder o controlo da vida. Colocar nas mãos de outra pessoa o nosso coração. E se ele tropeça e o deixa cair? E se a vida acha que eu ainda não levei cabeçadas suficientes? E depois olhamos para trás e já demos tantos passos. O medo de terem sido os passos errados. Passos a menos, passos a mais, caminhos errados que não nos levam onde queremos ir. O medo de não saber onde queremos ir. O medo ainda maior de não saber como lá chegar. 

Foda-se. O medo. E eu até já tenho um cão. 

4 comentários:

  1. Agreed!
    Faltou o medo de não o saber educar da melhor forma para ele ser uma pessoa de bem, independente, mas que não nos abandone, falo do filho, claro.

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    1. Não faltou, não. Há-de surgir esse medo também, caso surja a criança. Esse e tantos outros de que ainda não me lembrei.

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  2. Se me ponho cá a matutar também é o mesmo comigo. E já me chegaram as dores de crescimento que também doíam para caraças.

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    1. E estas não são dores de crescimento também? Porra, também doem. Chatos pah, a quererem fazer de nós adultos...

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