Fui a Londres em Outubro. Não me estava nada a apetecer. Mas era a viagem de sonho da minha mãe e ela não queria outra companhia que não a minha e da minha irmã. Claro que fomos. Ia com expectativas muito, muito em baixo, não planeei a viagem, os pontos a visitar, fui com a minha mãe e fiz-lhe as vontadinhas. Não havia nada que eu quisesse ver, mas não esperava era que houvesse algo que eu não quisesse ver. Pedidos, constantes e repetidos. Atenção a sacos esquecidos e sozinhos. Não deixe a sua bagagem sozinha. Se vir um saco abandonado, avise as autoridades IMEDIATAMENTE. E só aí é que me lembrei. Houve um atentado em Londres. Aqueles animais mataram gente aqui nesta cidade linda onde eu estou agora.
Aqueles acontecimentos deixaram de existir só na tv, nos noticiários, nas partilhas das redes sociais. Eu estava no palco daquela tragédia. Sei lá eu se me cruzei com algum sobrevivente, com algum familiar de uma vítima. Sei lá eu se pisei chão reconstruído depois da destruição. Fiquei realmente encantada e apaixonada pela cidade onde cheguei sem vontade. Regressei a casa com vontade de lá voltar, com outra disposição. Mas trouxe comigo uma nova angustia, uma coisa que nunca tinha sentido. Não foi medo. Não foi ódio. Não foi descrença. Foi um murro no estômago. Ver as coisas acontecer na televisão é uma coisa. Estar lá, mesmo depois de tudo limpo, reconstruído, reciclado e de cara lavada mexeu comigo. Ainda não percebi bem o que mudou. Mas algo mudou. Depois de 13 de Novembro, tenho ainda mais vontade de conhecer Paris. Se vou ter medo? Talvez. Mas vou. Eles não vão ganhar. Tal como a carta de um homem que perdeu a mulher diz, eles não terão o meu ódio. E quero mostrar como se vive feliz, com Amor, com o Bem.